Datenesco: adj. s.m. s.f. (do português midiático Datena). 1.Aquele ou aquela que segue a mesma ideologia que o Datena pregou em seu
programa de televisão. 2.Indivíduo portador de senso comum, incapaz de expor
pensamentos elaborados e complexos sobre problemas sociais, repetindo sempre os
mesmos jargões e frases feitas, que expressam tendências fascistas,
preconceituosas e obsessivas por punições e vinganças.
Está fazendo dois anos que decidimos criar o Blog Sociedade Sem Prisões (assim com o nossa página no Facebook) com o objetivo de divulgar um ponto de vista crítico em relação ao sistema prisional e suas funções sociais e políticas em oposição ao discurso hegemônico e central do governo e da mídia, pois estes não se interessam em mostrar diversidades de pensamentos que existe sobre o tema, mas apenas em massificar a opinião pública. Para além das ações que desenvolvemos pontualmente em nossos trabalhos com pessoas presas, egressos do sistema prisional e familiares, tínhamos o objetivo de também contribuir de alguma forma para mudar o imaginário social distorcido que existe a respeito desta realidade. O discurso governamental e a grande mídia insistem em apresentar o “crime” apenas como um fenômeno de origem e causa exclusivamente individual. Diferentemente, apresentamos uma visão da “criminalidade” a partir de uma gênese social, ou seja, mostramos que, para além das escolhas individuais (que claro, estão sempre presentes), há várias outras questões econômicas, sociais e culturais envolvidas na produção do crime e do criminoso. Portanto, não adianta punir ou recuperar “criminosos”, pois o que precisa realmente ser recuperado é a sociedade, para que os problemas sociais indesejados diminuam. Só que não há interesse por parte dos governantes em transformar essa realidade, que os favorece de várias formas, na medida em que obtém ganhos financeiros com a indústria da segurança, obtém votos e usam as prisões apenas para controlar as classes pobres, mas não para colocar seus iguais que também cometem ilegalidades.
Durante esse
tempo, descobrimos que o desafio de debater outros pontos de vista é muito
maior que imaginávamos, pois há muitas ideias cristalizadas que são difíceis de
serem descontruídas, pois já estão sendo induzidas há anos por programas e
jornais sensacionalistas além de também serem influenciadas por mensagens sutis
enviadas através das relações entre “mocinhos” e “vilões” de novelas. De forma
hipócrita e perversa, essa mídia, ao mesmo tempo em que lucra mostrando a
violência o tempo todo, diz pretender combate-la e apresenta soluções
simplistas, imediatistas e supostamente “milagrosas” para “combater o crime”.
Como exemplo, tivemos o caso da artista Daniela Perez, que gerou a Lei de
Crimes Hediondos e, consequentemente, foi seguida de um aumento estrondoso da
população carcerária no país, sem surtir nenhum efeito na diminuição da violência. Pelo contrário, quanto mais o país encarcera, mais a sensação de
insegurança da população aumenta. Isso, por si só, já deveria ser motivo de
questionamentos por parte da população a respeito desta “milagrosa solução” via repressão. Mas infelizmente o ser humano
é muito manipulável e, desprovido de meios para se informar mais profundamente
sobre os assuntos que lhe interessam, acabam tendo como fonte formadora de
opinião apenas os canais da grande mídia pertencentes à elite da sociedade, que
só mostram seu ponto de vista sobre os fatos.
O sensacionalismo
desses programas, jornais e novelas é o responsável pela exacerbação de uma
cultura do medo, que faz com que a população concentre seus reclames na área da
segurança e esqueça as reivindicações nas áreas da saúde, educação, moradia,
trabalho digno, distribuição de renda e erradicação da pobreza, previstos em
nossa Constituição Federal. Ponto para os políticos! Que poderão seguir seus
planos sem ter que mexer com os interesses dos grandes empresários capitalistas
que lhes financiam.
Dentro desta
programação televisiva, se destaca um personagem caricatural, que concentra
todas as características indesejáveis para aqueles que querem pensar seriamente
sobre o problema da violência e suas possíveis e reais soluções: o Datena. Qual
a característica do sensacionalismo reproduzido por ele e os demais que seguem
sua onda? Forte apelo emocional, uso de opiniões e expressões pessoais, chulas e
exageradas sobre os fatos, apresentação de imagens e casos chocantes, generalização
das opiniões, indução dos telespectadores a uma compreensão distorcida dos
fatos, atração de audiência através do choque, com chamadas bizarras do tipo “matou
e foi jogar bilhar”. É bom destacar que isso não é uma característica
individual deste apresentador, mas, sim, faz parte de um processo histórico e
social do qual ele é apenas um produto grotesco. Produto e produtor, uma vez
que também contribui para continuar disseminando essa forma de interpretação dos fatos que
funciona como um verdadeiro desserviço à comunidade, pois não agrega nenhum
valor e não contribui para mudanças sociais significativas e resolução dos
problemas apresentados a partir de suas raízes.
Enfim, durante
esses dois anos da página “Sociedade Sem Prisões”, nós temos que ler todos os
dias frases e jargões de “papagaios de telejornal”, que se tornaram incapazes
de pensar e construir ideias próprias, novas, autênticas e autônomas, que só
conseguem repetir aquilo que lhes foi empurrado através da tela da TV, por uma repetição
cotidiana e hipnotizante de frases (equivocadas) como na propaganda “compre Baton, compre Baton, compre Baton” (proibida pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária).
Atenção: Qualquer
semelhança identificada entre vocês (ou alguém que conheçam) e as expressões datenescas abaixo, NÃO é mera
coincidência.
“Se o
adolescente pode votar, pode pagar por seus crimes.”
“Direitos
Humanos (ou Direito dos Manos) é pra defender bandido.”
“Depois da
criação do ECA os pais não podem mais educar seus filhos.”
“Se tem dó de
bandido, então leva pra casa.”
“Só eu que fui violentado(a)
(ou tive um pai, uma mãe, um avô, um irmão) violentado(a) sei o que é ser
vítima desses vagabundos.”
“Se um criminoso desses estuprasse ou matasse
alguém da família desses defensores dos direitos humanos eles mudavam de ideia.”
“Depois que
inventou esse tal de direitos humanos a criminalidade piorou.”
“É por causa da
impunidade que os ‘menores’ estão matando desse jeito.”
“Um menor mata e
estrupa alguém e no outro dia já está na rua. Não tem punição.”
“Esses ‘direitos
humanos’ não se preocupam com as vítimas, só com os criminosos.”
“Enquanto o
trabalhador só ganha salário mínimo, o bandido tem bolsa de 900 reais, tem
comida todo dia, médico, nutricionista, etc.”.
“Direitos
humanos foram feitos para humanos direitos.”
“Os criminosos
fazem o que fazem porque sabem que não vai dar nada pra eles.”
“A pobreza não
justifica o crime porque eu conheço um pobre (ou tenho um parente pobre, ou eu
sou um pobre) que mesmo assim conseguiu ‘subir’ na vida, estudar e trabalhar
honestamente.”
“Os adolescentes
tem que ser punidos como adultos, pois já sabem muito bem discernir entre o
certo e o errado.”
“Bandido tinha
que ficar a pão e água na cadeia, fazendo trabalhos forçados e apanhando todo
dia pra aprender.”
“Tem que punir os menores porque os traficantes
estão usando eles pra fazer todo tipo de maldade porque eles não vão presos.”
“Esses
criminosos são psicopatas perigosos e sem empatia e por isso merecem ficar
presos pra sempre ou morrer.”
"Esse bando de marginais vagabundos estão soltos nas ruas enquanto os cidadãos de bem estão presos em suas casas."
"Polícia na rua e bandido na cadeia!"
"Pra esse tipo de gente monstruosa sou a favor da pena de morte."
"Esse bando de marginais vagabundos estão soltos nas ruas enquanto os cidadãos de bem estão presos em suas casas."
"Polícia na rua e bandido na cadeia!"
"Pra esse tipo de gente monstruosa sou a favor da pena de morte."
“Vocês que ficam
com dó desses vagabundos é que mereciam ser assaltados ou levar um tiro na cara
pra aprender.”
Enfim, a lista
poderia ser maior. Mas como podem ver, expressam um pensamento único: o clamor
pela punição (vingança) e a crença nesta como a única saída para o problema da violência. E
são esses pensamentos que formam o que eu tenho chamado de “jeito datenesco de ser”.
P.S. Em outra
oportunidade irei comentar porque cada uma dessas frases/ideias está totalmente
equivocada.